O álbum estrondoso de uma das maiores cantoras do país, com clássicos atemporais e que marcaram época
Por Victor Amancio
O sucesso do álbum de Cássia Eller, um dos ícones da música brasileira, pode se dar por conta do trabalho inegável de uma equipe e banda. O segredo? Ensaios durante quase um mês numa fazenda em Teresópolis, uma antiga clínica de reabilitação desativada.
“Tivemos uma experiência incrível que certamente fez a diferença para o processo e a entrega final. Ficamos um mês concentrados, respirando música, com uma alimentação saudável, tranquilidade e muito lazer. Foram dias inesquecíveis.”, pondera Walter Villaça, 62, músico e violinista da banda.
Por sugestão do cantor, amigo e diretor do álbum da cantora, Nando Reis, a banda foi para esse lugar mais reservado. O problema era que a capacidade energética do lugar não comportava os instrumentos e durante os ensaios a luz caia diversas vezes, o que geral risos e piadas entre os músicos. “Era um engraçado, acho que por conta da energia estar tão boa, em um momento tão agradável, não gerou nenhum tipo de estresse, pelo contrário, nos uniu.”, relata Villaça. Em entrevista para o making-of, Nando Reis também contou que mesmo no escuro eles jogavam baralho e escutavam músicas bebendo.
O álbum venceu na categoria de Melhor Álbum de Rock Brasileiro no Grammy Latino. Coroando toda a equipe que se dedicou para o sucesso deste obra, que até os dias atuais é lembrada com “carinho e respeito dentro do segmento”, como explica Luiz Brasil, 66, produtor do disco.
“Cássia era muito doce, dedicada e fácil de trabalhar. Estava sempre disposta com seu talento inegável, sem falar do bom humor. Eu produzi e escolhi com o Nando as músicas, batendo essa bola com ela. Tenho muito orgulho deste álbum.”, contou Luiz.
Entre as principais decisões que aconteceram no sítio, talvez a que mais se destaque é a mudança radical de formato da música “Malandragem”, que já era um de seus principais sucessos, e na nova roupagem, se tornou o grande hit do álbum.
Para além do sucesso do álbum, tivemos o surgimento da nova versão de Malandragem, um dos maiores clássicos e hits da cantora. O cantor Nando Reis explicou em seu canal no YouTube que “Em um dia de muita a chuva, a luz acabou, então ficamos jogando buraco e escutando rádio, até que tocou “My Pledge of Love”, do Joe Jeffrey, e foi ouvindo ela que me veio a ideia para o arranjo de “Malandragem”, que eu queria que fosse diferente da versão de estúdio”. De início produtor disse que a banda relutou, mas que depois foram convencidos. Essa nova roupagem deu uma nova cara a música e se tornou a cara do Acústico MTV.
O timbre grave da cantora, eleita a décima oitava maior voz a quadragésima maior artista da música brasileira pela revista Rolling Stone Brasil, ecoa até os dias de hoje. Sem a interpretação única de uma das mais importantes vozes da história do país, da mulher à frente do seu tempo, que teve consciência de temas sensíveis e que, sem dúvidas, revolucionou o seu tempo. Malandragem, Segundo Sol, Relicário, Por Enquanto..., os sucessos de Cássia até hoje podem ser ouvidos, na sua voz ou na de outros artistas, mas é inegável o quanto a cantora marcou e deixou seu DNA nessas faixas. “Ela era antes tudo uma intérprete excepcional.”, afirma o produtor.
“A Cássia atirava para muitos lados. Ela gostava de rock, MPB, blues..., mas ela mantinha a autenticidade, embora as decisões dela de carreira tivessem influência, como os empresários, no final, tudo acabava ficando com a cara da Cássia, mas era um passeio por todos os lados. Em um acústico dela, tem Nirvana, Cazuza, Nação Zumbi. É uma coisa legal, porque no Brasil temos uma tradição muito forte do intérprete. Então, é ótimo ver uma artista dando o jeito dela, que era único.”, aponta o Bernardo Araújo, jornalista de Cultura.
Sabemos que a cantora marcou a vida dos seus fãs apaixonados, mas, além deles, Cássia fez diferença na vida de quem trabalhou com ela.
“Ela foi principal e fundamental na minha vida profissional e pessoal. Me abriu as portas para o show business e depois para vários outros artistas. Trabalhei com ela quase 8 anos, no qual gravei a maior parte de toda a obra dela. Além disso, era uma irmã para mim, pois além do trabalho, estávamos sempre juntos. Amor incondicional que tenho por essa amiga. Me sinto muito privilegiado e abençoado por esse encontro. A Cássia foi a primeira artista grande que toquei profissionalmente e foi a melhor e maior experiência que tive, em todos os sentidos. Nos palcos era incrível pois ela era uma mulher muito tímida, e se transformava naquele furacão de emoções, sempre com boas surpresas nas suas performances imprevisíveis e maravilhosas. A Cássia é uma das maiores intérpretes do Brasil e do mundo. Um mito, uma referência eterna. Viva Cassilda! Viva as vozes femininas! Viva a música!”, encerra Walter.
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