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Da admiração mútua à dependência química. Tudo o que Cássia Eller e Chorão tiveram em comum em vida

turmasetehoras

Updated: Dec 13, 2021

De perfis “transgressores” similares, os músicos Cássia Eller e Alexandre Magno Abrão, popularmente conhecido como Chorão e líder da banda Charlie Brown Junior, encantaram o Brasil a partir da música e, por detalhes do destino, não lançou um projeto mútuo. Os ícones da música possuíam amigos em comum e foram incentivados a tocar em conjunto em uma fase que prometia trazer Cássia Eller de volta para o cenário do rock nacional, no início dos anos 2000. Por detalhes do destino, a parceria entre os dois não aconteceu devido a morte precoce da cantora, em dezembro de 2001. O cantor paulista também teve a vida e, consequentemente, a carreira interrompida de forma breve e, aos 42 anos, ele morreu em decorrência do excesso de cocaína no organismo no ano de 2013.

Cássia Eller e Chorão no programa Altas Horas, da Rede Globo, em 2001

Por mais que a cantora Cássia Eller não tenha falecido, de fato, em decorrência de uma overdose – mas sim de uma parada cardíaca causada por uma má formação do miocárdio -, como Chorão, engana-se quem pensa que a dependência química tenha sido o único ponto comum na trajetória de ambos. Ao longo da vida e carreira, Cássia Eller sempre se mostrou uma mulher aguerrida, transgressora de normas “aceitáveis” para a época e, do mesmo modo, uma cantora fora dos padrões. O Marginal Alado, como também era conhecido, por sua vez, também foi um ídolo punk da música nacional que, com um jeito irreverente de levar a vida, moveu multidões através de suas rimas. Tal semelhança da forma com que cada um levava a vida, além do estilo musical, fez com que, para muitos, houvesse a seguinte comparação: “O Chorão é a Cássia de calça e a Cássia é o Chorão de saia”.


As rimas cantadas pelo cantor de Santos tocaram os ouvidos de Cássia Eller e, por muito pouco, não houve um featuring – entenda-se por uma parceria musical - entre a dupla. Após uma ida simultânea ao programa de auditório Altas Horas, da Rede Globo, em 2001, os dois se conheceram e a partir da ocasião criaram uma rápida amizade. A relação entre os dois cresceu devido a existência de amigos em comum e, em certo momento, de acordo com entrevista de Chorão ao programa Hora do Faro, datada em 2009, Cássia Eller pediu para que ele fizesse uma música para que ela pudesse interpretar. O cantor, declaradamente fã da mesma, prontamente atendeu o pedido, mas infelizmente não houve tempo hábil para entregar a música O Dom, a Inteligência e a Voz porque o fatídico episódio da morte de Cássia Eller aconteceu primeiro.


- Ela pediu para eu fazer uma música para nós dois cantarmos e pediu ainda que fosse um estilo porrad* porque já estava de saco cheio do violão e queria voltar a cantar rock. Eu escrevi a música em quatro dias, mas quis dar um tempo antes de mandar para ela. Foi quando recebi a notícia de sua morte. Durante um bom tempo isso me incomodou – relembrou o cantor em entrevista para o programa do Rodrigo Faro, em 2009.


A parceria em vida não chegou, de fato, a acontecer, mas a admiração de Chorão era tamanha que no álbum da banda Charlie Brown Junior subsequente a morte de Cássia Eller, a cantora foi quem recebeu a maior dedicatória. Curiosamente ou não, Bocas Ordinárias, 2002, que mistura diversos gêneros musicais como o hardcore punk, reggae, rap e rock é visto como o melhor disco da banda.


A grande confusão criada por parte da mídia brasileira a partir do evento da morte da cantora Cássia Eller, em 29 de dezembro de 2001, fez com que até os dias atuais – na data que completa vinte anos no próximo mês – muitos acreditassem que a musicista tenha morrido por abuso de substâncias entorpecentes. Apesar de que nas semanas subsequentes a imprensa tenha se retratado com a informação de que o laudo final do IML apontasse que a cantora morrera de enfarto, a associação entre vítima e drogas já estava marcada para uma geração, já que não o veredito não teve a mesma repercussão do que os palpites iniciais. Dessa forma, é interessante buscar entender por quais motivos uma quantidade considerável de músicos brasileiros apresenta, em algum momento da vida, algum vício químico e também até que ponto a vida de artistas renomados está intimamente ligada ao uso de drogas ilícitas em muitas ocasiões.


A MÚSICA E O USO DAS DROGAS

Não é algo exclusivo ao presente momento a quantidade de notícias que ligam o envolvimento de famosos com drogas e bebidas alcoólicas. Cássia Eller, conforme a própria admitira meses antes do óbito, foi mais uma artista musical que sofreu com a dependência química, tendo inclusive tido problemas para deixar de lado a cocaína. Especialistas apontam que um dos principais motivos que fazem com os tóxicos estejam comumente em evidência na trajetória de músicos renomados é a falsa sensação de genialidade construída a partir do uso dos mesmos. De acordo com a Julia Corrêa Torres, diretora clínica da Clínica Recomeço, que se dedica há duas décadas aos estudos ligados ao consumo de álcool e outras drogas, os artistas buscam se tornar mais criativos em um cenário em que estejam fora de si e o modus operandi da liberação desta criatividade é, em muitas ocasiões, realizadas a partir do uso de entorpecentes. No caso de Cássia - que não era a compositora da maioria das músicas que cantava -, pode-se supor não uma ativação de uma criatividade, mas sim numa desinibição dentro do palco, uma vez que é fato bastante sabido a timidez da cantora. No entanto, ele alerta que a ação pode virar uma bola de neve.


- Se houve sucesso nesse uso libertadores, no médio prazo, cria-se um caminho sem volta da dependência química - destaca.


Um outro aspecto ainda ligado ao uso de tóxicos por parte de artistas que merece ser destacado é a pressão social. A necessidade de aparentar que estão sempre bem e felizes com as respectivas carreiras faz com que a prática se torne mais habitual porque é através do uso de entorpecentes que é criada uma realidade paralela capaz de confortar o indivíduo e, consequentemente, aliviar todo o estresse trazido em uma rotina marcada pela correria de shows, viagens, além de, é claro, o próprio cotidiano pessoal que foge das questões profissionais.

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