Por Melissa Nasser
Foto: reprodução
— Cassia Eller não imitava ninguém, ela desenvolveu sua “técnica” particular de projetar a voz e essa foi a identidade forte que criou – afirmou a professora de canto Luisa Saboia.
A habilidade da artista em saber colocar a voz de forma clara e segura em cada canção criou um grande traço na personalidade de sua carreira. A diretora e professora de canto do Centro Musical Antonio Adolfo do Rio de Janeiro, Luisa Saboia, revelou que as maiores características das interpretações de Cássia vinham da originalidade e da entrega, e não do uso de grandes técnicas vocais quando subia no palco.
— O timbre e a maneira “rasgada” de colocar a voz foi um dos grandes detalhes que tornou sua maneira de interpretar única. Ela cantava de forma reta e não usava muitos vibratos, sabia interpretar as músicas de forma super clara e emotiva. Era uma cantora que se doava totalmente nas canções, nas letras, na projeção vocal. Uma verdadeira artista – comentou.
Luisa também afirma que o uso descontrolado das técnicas vocais são um grande perigo para novos artistas. Segundo a professora de canto, é essencial saber equilibrar a técnica e a emoção durante as apresentações e o exagero de alguns recursos pode fazer com que o cantor perca sua identidade na interpretação.
— Quando cantamos com aquela técnica impecável muitas vezes deixamos de lado a emoção no canto e, consequentemente, perdemos a identidade vocal. Ou seja, o ideal é termos um meio termo. Técnica vocal até para preservar a saúde das cordas vocais e muita emoção. Mas muita técnica soa “plástico”, e não vai soar humano – contou.
A diretora ainda diz que acredita que o principal ingrediente para tornar uma interpretação inesquecível é a entrega do cantor, além de valorizar as letras e ter autenticidade.
— Cantar com emoção, se entregar totalmente a canção, ficar ligado na letra da música e entender o que exatamente está cantando são detalhes essenciais de uma apresentação. Outra coisa muito importante é o intérprete não tentar imitar um outro cantor, e sim criar a sua própria personalidade na voz – revelou Luisa.
Uma das características mais notáveis em grandes cantores da história é a exposição da própria verdade de forma singular. Paloma Ribeiro, cantora, compositora, produtora e professora de canto e de piano em Londres, contou que Cássia é um exemplo de como um artista autêntico pode marcar uma geração e que o mérito não vem apenas da voz, mas da união da expressão vocal com a grande personalidade da cantora.
— Cássia Eller tinha uma personalidade marcante assim como sua voz. Ela trazia para o palco sua verdade e na voz expunha de forma única sua alma.
Marcou uma geração por mostrar de forma clara que talento não se faz apenas com uma boa voz, mas a expressão da personalidade do artista deve caminhar junto a sua voz – afirmou Paloma.
A professora de música conta que a interpretação é um processo individual de cada cantor e que além do trabalho com a voz, a escolha do repertório é uma decisão fundamental para conectar a essência da voz com a letra da canção.
— No palco deve-se unir boa técnica vocal e coração. A escolha de um repertório adequado se torna também muito importante. O cantor deve sempre encontrar antes sua subjetividade vocal e a partir desse ponto ele saberá seus pontos positivos na voz. Durante a interpretação o cantor apenas colocará isso em prática, por exemplo se for um cantor que possui “drive” na voz colocará no lugar correto, dando mais vida em sua expressão – revelou.
REFERÊNCIA PARA NOVAS CANTORAS
A interpretação é uma arte que demanda prática e entrega, além da técnica. Cantar uma música escrita por outra pessoa e criar intimidade com a letra não é uma tarefa fácil. A cantora e compositora Luiza Carvalho, de 21 anos, acredita que cantar uma canção escrita por outras mãos é um desafio e cantar uma música autoral é uma experiência diferente e mais intensa.
— Acho que a experiência de interpretar uma canção de outra pessoa é muito boa e desafiadora porque tentamos nos conectar com a inspiração dela, o que a fez escrever. É um desafio mesmo, mas é algo que canto me preocupando menos com a exposição, de certa forma, por ser algo que não escrevi. Então consigo me entregar de um jeito mais fácil. Cantar uma música autoral é sempre uma experiência intensa é especial. É diferente de tudo. A sensação é de medo, mas também de liberdade. A responsabilidade aumenta, mas quando consigo me entregar à canção, vivo meus melhores momentos – contou.
Além disso, Luiza afirma que Cássia Eller é uma das suas grandes referências musicais desde que seu pai a fez ouvir pela primeira vez durante a infância e que a trajetória da artista, assim como a presença de toda cantora que sobe nos palcos para representar a música brasileira, é um ato político de resistência.
— A Cássia é uma das minhas maiores referências na música, meu pai me fez ouvir pela primeira vez quando era criança. Acho que é a cantora mais forte que já ouvi. Você não precisa ver como ela é para entender quem ela é. A voz fala por si só. Sinto que continua encorajando e inspirando novas cantoras. Acredito que todo espaço no mercado de trabalho que a mulher atue é um ato de resistência social e política. Por muitos anos, homens dominaram o cenário musical, principalmente no Brasil, então me sinto privilegiada por viver um momento que cantoras ocupam esse espaço de maneira tão abrangente – revelou.
THE VOICE BRASIL
A Cássia Eller não era uma pessoa que compunha muitas canções, mas o jeito que ela fazia tornava as canções dela e eu vejo muitas características dela em você aqui hoje – disse o cantor Lulu Santos para a participante Camila Marieta, no episódio do dia 28 de outubro de audições às cegas da décima temporada do The Voice Brasil.
O técnico comparou a interpretação de Camila Marieta, de Fortaleza, com a maneira de interpretar de Cássia, elogiando a forma como ela inseriu sua personalidade numa canção que não havia escrito. Camila conquistou os quatro jurados do reality e entrou para o time de Iza ao cantar a música “Espumas ao Vento”, de Fagner.
— Foi um misto de emoção e felicidade. Não sei explicar a sensação. Só chorava. Eu aprendi a escrever em casa com a ajuda da minha mãe. Aos sete anos compus minhas primeiras canções. Sonhando em cantar para todo mundo e então tive quatro cadeiras viradas no programa. – disse Camila sobre sua apresentação.
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