Por João Victor Bellido
Foto: @relicáriodacassia
29 de dezembro de 2001 não foi uma data nada especial para o brasileiro, muito menos para os fãs de Cássia Eller e da música brasileira. A cantora, que não conseguiu resistir depois de três paradas cardíacas, deixou o Brasil com a partida precoce e inesperada. Mas a alma de Cássia ainda está presente nos dias atuais, dentro de cada um de seus seguidores, aliados, admiradores, fãs ou até mesmo ´´coadjuvantes`` de uma história fantástica. Seu legado ajudou milhares de pessoas, mas especificamente, duas pessoas a se conhecerem, até mesmo dentro da comunidade LGBT, dando coragem para elas se assumirem: Daniel Peres e Fernanda Kell.
Como canta Renato Russo em ‘Love In The Afternoon’: “os bons morrem jovens” … e foi assim que ela deixou uma saudade enorme em cada brasileiro. Cássia, que além de ter sido uma das maiores influências e ícones da música, foi uma grande referência social, já que levantava publicamente essa bandeira LGBT em uma época totalmente diferente dos dias atuais, onde essa luta já está avançada, e com certeza, com ajuda da cantora.
Como prova disso, Fernanda Kell, terapeuta e fã de carteirinha de Cássia Eller, conta como que um simples consolo de uma referência e ídola faz diferença, mesmo após uma situação extremamente delicado e que envolve essa luta LGBT.
- Quando eu tinha 16 anos, quando resolvi assumir minha sexualidade, sofri bastante porque venho de uma família muito conservadora, que não aceitava e tinha muito preconceito. Lembro que tive uma briga muito feia com o meu pai, fugi de casa e fui parar no Rio de Janeiro, na casa de um amigo. E quando a gente foi dar uma volta, acabei encontrando logo a Cássia andando de skate, fiquei toda nervosa e desesperada, e me perguntou o porquê que eu estava chorando. Contei o motivo e ela falou ´´olha, você não fica assim não, as pessoas que tem que aceitar, elas vão te aceitar do jeito que você é, da forma que você é, e não vão querer te mudar``. Então, aquele conselho para uma fã, naquele momento que eu estava precisando, foi incrível, eu nunca mais esqueci.
Com certeza, mostra que outros milhares de fãs podem ter conhecido ela assim, em um momento em que essa pessoa precisava de alguém para conforta-la de alguma maneira, nesse caso, com a música e personalidade.
- Em 1994, quando eu tinha 11 anos, estreava o folhetim Malhação, na Rede Globo, com grande expectativa do público jovem. Cássia Eller estava na trilha sonora cantando Malandragem. Era como se aqueles versos tivessem sido escritos pra mim, ainda mais que eu vinha de uma família "terrivelmente" evangélica. Certa vez, ao ouvir um sermão do meu pai sobre a necessidade de Deus na minha vida, cantarolei o refrão da canção e levei uma surra. A partir daquele momento tornou-se uma espécie de hino de resistência da minha juventude. Em seguida, ela gravou um disco em homenagem a Cazuza, na mesma época que eu descobria minha sexualidade. Foi aí que comecei a pesquisar vida e obra da cantora. Neste processo de pesquisa, também conheci o disco de 1992, chamado "O marginal", que continha mais uma canção de temática LGBT – revela o publicitário.
REDES SOCIAIS COMO CAMINHO
A rede social, com toda a sua diversidade, é uma ferramenta para interação social, mas também tem outras funções, como a de trazer o passado para o presente. E é isso que Daniel e Fernanda fazem e querem fazer. Os dois têm como principal objetivo, trazer a Cássia, de alguma maneira, para as pessoas dos dias atuais. Eles sabem que muitos não a conhecem, e por isso, tiram um tempo para poder inserir um pouco da cantora na vida de qualquer amante da música brasileira, e mostrar a importância que Cássia teve para movimentos sociais e individuais, mesmo em tempos difíceis, para todo brasileiro.
- Recentemente, ao perceber que a juventude desconhece a grandiosidade e o pioneirismo de Cássia Eller, resolvi criar o perfil @falandodecassia para falar da obra dela e contribuir com material e curiosidades, já que possuo um bom acervo e raridades da artista. A página ainda está engatinhando. O tempo é principal impedimento, pois, ao lado de Cássia Eller, possuo outro grande ídolo, Elza Soares, a quem dedico muitas horas de pesquisa - conta Daniel.
- Meu apelido é Nanda Eller, porque eu sempre gostei muito de Cássia Eller. Conheci a Cássia quando tinha 14 anos em um programa da TV Cultura. Ela cantou uma versão dos Beatles e eu amei a interpretação dela. Ela tinha muita essa força e isso me chamava muita atenção. E foi aí que eu virei fã da Cássia, de carteirinha, de ir atrás, de fazer tudo para ir nos shows, mesmo que, na época, eu era de menor e todos os shows dela eram para maiores de idade. Tive que até falsificar documentos para poder entrar em um desses shows, coisa que eu nunca tinha pensado em fazer - diz Fernanda.
Com isso, ela realizou uma dos maiores sonhos: ser dona de uma conta oficial de fã da cantora no Instagram. Ela conta como conseguiu esse feito e o propósito da conta hoje em dia.
- Uma vez, uma amiga me chamou para fazer um perfil de fã clube para a Cássia, aí a gente foi falar com o Rodrigo Garcia, que é quem tem os direitos autorais da dela, e ele disse para a gente criar um perfil de fã clube oficial para ela. E foi aí que a gente criou o @relicariodacassia, justamente para levar a Cássia para essa nova geração, porque pouca gente tem esse conhecimento real sobre ela, da importância dela.
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