Por Beatriz Orfaliais
Foto: Chrisce de Almeida
Tacy de Campos era uma das inúmeras pessoas fantasiadas de indígena no Carnaval daquele ano. O rosto pintado de vermelho, algo sobre a cabeça. Estava na fila para comprar um bilhete da barca que sai de Niterói para o Rio de Janeiro quando foi abordada por um morador de rua. “Você parece alguém que eu conheço.” Certa de que ele iria falar que ela se parecia com algum personagem folclórico, como o Curupira, Tacy muito se surpreendeu ao ouvir: “Você é a Cássia Eller”.
Tacy, que interpreta Cássia Eller em “Cássia Eller, O Musical” é comparada com Eller até quando está fora dos palcos. A cantora curitibana já participou de uma banda tributo à Cássia chamada “Os Marginais” e, em 2017, lançou o primeiro álbum solo, denominado “O Manifesto da Canção”. A artista afirma que sempre a acharam parecida com Cássia, visto que o timbre vocal se assemelha bastante. Ela, entretanto, diz ter notado esta semelhança somente mais tarde e considera sua forma de cantar mais suave que a de Cássia. A influência de Eller era, no princípio, segundo Tacy, inconsciente. Somente quando começou a estudar a forma de Cássia de cantar é que iniciou a ser influenciada pela artista de forma consciente. Ser constantemente comparada com Cássia já foi um incômodo, mas hoje em dia Tacy procura ver as comparações como algo positivo.
- Elas (pessoas que comparam Tacy à Cássia) acreditam que estão dizendo uma coisa maravilhosa. E eu quero acreditar que elas estão dizendo uma coisa maravilhosa, eu não quero levar para o lugar de 'ela não está me vendo.’ Eu acho que quanto mais eu aceito a Cássia na minha vida, mais eu sobressaio, no final das contas – aponta Tacy de Campos.
A curitibana nunca havia trabalhado como atriz antes do musical. Por isso, Campos se aproveitou de alguns pontos em comum que tem com a cantora, como a timidez, para compor a personagem. Entretanto, continuava sendo Tacy, nunca Cássia. Campos aponta que sempre separava a Cássia da Tacy, ainda mais porque o cotidiano das duas é completamente diferente. Em momento algum a cantora tentou imitar Eller. Ao longo das temporadas do musical, Tacy entendeu cada vez mais como precisava impostar a voz para se assemelhar à Cássia. Campos bebeu do universo, incorporando-a cada vez mais, e dos amigos da cantora, com quem teve longas conversas. Ela se apaixonou pelo ser humano que Eller era.
O musical foi um divisor de águas para Tacy. A artista precisou mudar de cidade e de vida. Graças à “Cassia Eller – O Musical”, Campos foi chamada para homenagear Cássia Eller no Rock In Rio em 2015 e gravar o especial com Nando Reis no Fantástico. O musical também fez com que Tacy conhecesse pessoas que a ajudariam na gravação de “O Manifesto da Canção”.
- Mesmo depois do musical surgiram outros projetos que hoje em dia eu toco que também envolvem a Cássia, então ela está sempre muito presente no meu canto e também na minha interpretação de forma geral.
Para Tacy, é graças ao musical e às pessoas nele envolvidas que ela continua realizando um trabalho artístico.
- Eu só tenho a agradecer ao musical. Talvez se ele não tivesse aparecido eu talvez tivesse que ter aposentado meus planos – afirma de Campos.
Ao conviver tanto com o universo de Cássia (e com o roteiro do musical), Tacy acabou “pegando” algumas gírias de Eller. Entretanto, não foi só nisso que Cássia influenciou na vida de Tacy. Cássia a influencia a ter sempre coragem de aprender novos instrumentos e superar desafios. Além disso, o álbum “O Manifesto da Canção” é permeado por Eller, visto que foi gravado durante as turnês do musical pelo Brasil.
- Tem muito da Cássia no “Manifesto” em termos de sonoridade, de timbre vocal, de interpretação... tem muita coisa. E também composição, com certeza. E até hoje, ainda que talvez agora de uma forma um pouco mais... de menor intensidade, e de uma forma mais consciente, ela sempre, sempre está influenciando. Eu considero como a minha madrinha – ressalta Tacy.
PARA ALÉM DE TACY
Tacy é apenas uma das pessoas que teve a vida influenciada (no caso dela diretamente) por Cássia. Na visão de Campos, uma das maiores influências de Eller foi a presença do violão para além de um instrumento de apoio e de defesa cênica. Ou seja, Cássia inspira as mulheres a se apropriarem do instrumento, tocando-o virtuosamente e se apaixonando por ele (não somente o violão, mas qualquer instrumento que desejem tocar).
Para Tacy, Cássia era uma inspiração no quesito de coragem. Ela não tinha medo de se vestir como queria, de fazer o que bem entendia sem (pelo menos aparentar) se importar com a opinião dos outros. Ainda segundo ela, Eller fazia as coisas de forma desprendida (como na vez em que levantou a camisa e mostrou os seios no Rock in Rio, em 2001).
- Eu acho que depois dela as mulheres ficaram um pouco mais desprendidas nesse sentido, um pouco mais autônomas. No sentido não de fazer como ela fez ou de fazer igual o que ela fez, mas de ter essa liberdade, de ter a coragem de fazer o que queria fazer no palco. Ser mais natural, ser mais orgânica. É a minha leitura – reitera de Campos.
Tacy só foi ouvir a fundo o trabalho de Eller depois da cantora ter morrido. Apaixonou-se tanto pelo ser humano que passou a conhecer através da peça que diz até sonhar com as duas papeando e tocando juntas. Quem sabe em outro plano este encontro aconteça. E que possam ter espectadores para se deliciarem junto.
Vídeo extraído das redes sociais de Tacy de Campos.
Vídeo promocional de Tacy de Campos: https://vimeo.com/289012966
Foto: Chrisce de Almeida
Foto: Chrisce de Almeida
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